Dr. Milton Bigucci, recentemente concedeu entrevista a jornalistas do Paraná em que opina sobre os desafios da construção civil em atingir a classe D. Ele destacou que a importância dos subsídios governamentais para o financiamento popular. “A classe D é uma das faixas da pirâmide social que menos oferece risco de inadimplência”, completou Bigucci.
Confira:
Contingente de 57 milhões de brasileiros quer moradia nova. Com subsídio governamental, construtoras se preparam para a demanda
Depois de descobrir a classe C, o mercado consumidor se debruça para desvendar os anseios da classe D. Trata-se do maior contingente de brasileiros. São 57 milhões de pessoas – 30% da população do país -, com capacidade de movimentar um mercado de R$ 380 bilhões. “Apesar de conviver com uma renda per capita entre R$ 79,00 e R$ 352,00, este público já ultrapassou a classe B em diversos itens de consumo, tais como produtos de higiene e beleza, móveis, bebidas e artigos de limpeza. É um movimento que faz com que as empresas comecem a prestar mais atenção a esses consumidores”, avalia o especialista em estratégia, Marcos Morita.
Companhias como Casas Bahia, Habib’s e Gol já se posicionaram para atender essa faixa de consumidores. Mais recentemente, a construção civil começou a despertar para a classe D. Porém, o setor vive um dilema: sem subsídio governamental, descobriu que não consegue atender a demanda por moradias que há na base da pirâmide social. “É assim em todo o mundo. Não existe financiamento popular sem que haja subsídios governamentais. O grande problema do país é que só a partir do Minha Casa, Minha Vida é que começou a existir esse subsídio”, destaca Milton Bigucci, presidente da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do ABC paulista.
Bigucci avalia que a atuação das companhias habitacionais, em parceria com o setor privado, têm permitido um bom volume de investimentos em bairros mais populares, principalmente na periferia das grandes capitais, onde o custo do terreno é mais barato. Ele destaca também a facilidade para a obtenção de financiamento propiciada pela Caixa Econômica Federal. “Existem incentivos e a classe D está sendo bastante atingida. Só que, nesta classe social, a demanda é maior que a capacidade de produção. Se tivesse mais moradias, a classe D estaria comprando mais”, afirma.
Fomentando habitações para a classe D, a construção civil torna-se referência para outros segmentos da economia que também buscam a base da pirâmide. Para isso, ensina Marcos Morita, é preciso quebrar paradigmas, pesquisando e mergulhando no dia a dia de famílias em periferias e bairros menos favorecidos. “Atingir esse contingente requer virar de cabeça para baixo os 4 Ps”, diz, indicando qual deve ser o caminho, inclusive para quem vende material de construção:
Produto: se engana quem imagina que por trás da classe D estão produtos de baixa qualidade. Aqui, o binômio custo x benefício é extremamente valorizado.
Preço: grande parte não tem acesso a produtos bancários, comprando através de carnês. Por esta razão costumam ser bons pagadores, já que não querem ter seu nome sujo na praça.
Praça: para atingí-los uma complexa logística deve ser montada, disponibilizando as mercadorias nos mais distantes rincões.
Promoção: para este público, brindes e promoções do tipo leve 2 e pague 1 costumam fazer sucesso, uma vez que diminuem o gasto unitário total.
Em função dessas características da classe D, o presidente da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do ABC Paulista acredita que trata-se de uma das faixas da pirâmide social que menos oferece risco de inadimplência. “Não podemos discriminar por ser classe D. O que se tem que fazer é oferecer oportunidade para o cidadão ter a sua casa própria. Afinal, hoje as classes A e B estão com problemas de pagamento, assim como empresas na Europa e nos Estados Unidos, o que tem contagiado o Brasil. Isso não é exclusividade de nenhuma classe social”, afirma.
Fonte: Itambé