Por Milton Bigucci
As novas gerações das famílias estão mais preparadas para gerir as empresas familiares que os idosos, dentro da “Era da Tecnologia, Internet e Inteligência Artificial”, porém sem a mesma garra que permitiu aos fundadores saírem do zero e alcançar vitórias nunca imagináveis.
A grande esperança está nos herdeiros unidos. A sobrevivência dessas empresas dependem dessa união. Grande parte delas não resiste às brigas. Com os filhos é mais fácil, pois foram criados com o patrono. Com os netos já é mais difícil, pela distância entre as gerações. Imagine os bisnetos! A cada geração cai a participação, porém aumenta o número de descendentes e se multiplicam os problemas internos com os herdeiros, pois são mais pessoas com ideias diferentes e conflitantes, porém com peso de votos às vezes iguais. Deve haver regras e evitar-se discussões intermináveis.
Quanto mais gerações, mais longe fica a perenidade da empresa. No entanto, há empresas centenárias como a Gerdau e a Hering, no Brasil, a Ericsson, na Suécia, entre outras.
A figura do fundador deve ser preservada e servir como exemplo sempre, pois foi com as suas virtudes e defeitos que a empresa nasceu do nada e se tornou uma potência.
Haverá momentos que os novos perguntarão: “Mas como de uma forma às vezes rudimentar tudo foi para frente?” Foi com disciplina, dedicação, obstinação e amor, sem medo de fracassar, só acreditando em vencer. O carisma ajuda a vencer. Não foi por acaso que a MBigucci conseguiu ser uma das maiores e mais bem preparadas construtoras do ABC e São Paulo. Acabamos de ficar pelo sexto ano seguido entre “As Melhores do Brasil” – 1° lugar em 2014 e 2015 e 2° lugar em 2016, 2017 e 2018, da revista ISTOÉ Dinheiro. Sempre que possível, a empresa deve continuar tendo a cara e o nome do seu fundador, aliada à imagem de qualidade, competência, seriedade e dinamismo.
Boa parte das empresas no mundo é familiar, resistindo a crises e trovoadas internas e externas. Não só as pequenas. Grandes como a Ford, Walmart, Fiat, Samsung e também a Magazine Luiza, Banco Itaú são empresas familiares.
Regra importante: não misturar família com negócios da empresa, evitando-se conflitos.
A economia brasileira gira com mais de 50% de empresas familiares. Deve-se criar regras de trabalho para os herdeiros analisando-se o perfil de cada membro. Cabe aos pais educar os filhos para gerir a empresa, dando-lhes conhecimento sobre o negócio, com disciplina e normas. Devem começar bem por baixo, conhecer tudo e galgar os degraus. Meus filhos e sobrinhos assim começaram, como office boy. Hoje são diretores cada um em uma área.
Aprenderam quase tudo em todas as áreas, em um rodízio de departamentos, até que se desperte a tendência de cada um e o local certo para trabalhar. Estudaram sempre. Todos têm cursos superiores, alguns com dois. Trabalho, estudo, disciplina e garra são os pavios do sucesso.
Os netos da família Bigucci também já estão estagiando na empresa e são tratados iguais aos demais empregados, com subordinação e regras, cumprindo horários e recebendo salário. Têm que aprender cedo. É importante eles saberem como tudo começou.
Sempre que puder, o fundador deve participar das grandes decisões. Sem misturar, deve ser família e gestor. É difícil. Festa de família não se confunde com reunião de Diretoria. Patrimônio da empresa não deve se confundir com patrimônio pessoal. Nunca pague uma conta pessoal com recurso da empresa. Cada ramificação da família tem sua vida. Nunca interferir no modo de vida de cada um. É o segredo do sucesso: a independência.
*MILTON BIGUCCI – é presidente da construtora MBigucci, presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Construtores do Grande ABC, membro do Conselho Consultivo Nato do Secovi-SP e do Conselho Industrial do CIESP, conselheiro vitalício da Associação Comercial de São Paulo e conselheiro nato do Clube Atlético Ypiranga (CAY). Autor dos livros “Caminhos para o Desenvolvimento”, “Somos Todos Responsáveis – Crônicas de um Brasil Carente”, “Construindo uma Sociedade mais Justa”, “Em Busca da Justiça Social”, “50 anos na Construção” e “7 Décadas de Futebol”, e membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, cadeira nº 5, cujo patrono é Lima Barreto.