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Trabalhar pra quê? – Por Milton Bigucci

Tenho um sítio a 2km do asfalto, no interior de São Paulo, onde há uma vila com aproximadamente 70 casas, com famílias numerosas e muitas crianças pequenas. As vezes preciso de uma pessoa para capinar o pasto por 10 ou 15 dias e o valor da mão-de-obra da região é R$20,00 por dia.

Embora haja muita mão-de-obra sobrando, vocês não imaginam a dificuldade para conseguir um trabalhador, porque eles alegam que prec isam andar 2km pra chegar ao trabalho. É mais fácil conseguir um trabalho na cidade, no meio urbano, onde também há muito desemprego. O maior comércio varejista da vila são os bares. Há quatro e todos estão sempre movimentados.

Perguntei ao Lauro, responsável pelo meu sítio, como vivem essas pessoas, pois não entendo como sobrevive boa parte dessas famílias, sem trabalhar. vejam o que ele me respondeu e reflitam sobre o que se passa no campo. O meu sítio fica no interior de São Paulo,  o estado mais desenvolvido da nação. Imaginem o que acontece no restante do país.

“Essas pessoas vivem da ajuda do governo, mensalmente vão a casa lotérica no centro da cidade receber o Bolsa – Família do Governo Federal e na fila ao lado as vezes fazem uma “fezinha” para tentar a sorte. Quanto mais filho melhor, mais recebem. Os filhos menores ficam na creche na vila, recebem o leite e a alimentação do governo municipal. Os filhos um pouco maiores ficam na escola estadual, com almoço grátis e recebem ajuda nos uniformes. Os adolescentes fazem o curso médio na cidade ee são transportados gratuitamente por uma van da prefeitura.”

Toda essa assistência necessária, acredito, seria para que os pais pudessem trabalhar e suprir outras necessidades. Vivem em casas doadas pelo poder público municipal que pertenciam a uma cooperativa que faliu e o governo assentou as famílias em defi nitivo no local. Algumas casas têm janelas, outras só papelão, algumas estão em piso de terra, todas têm água encanada e luz elétrica. Muita criança. Mais do que a média nas cidades grandes.

Sente-se na rua principal da vila, um clima modorrento de tranqüilidade, uma pasmaceira geral, muito cachorro, alguns bêbados, algumas mulheres no portão das casas conversando debaixo do sol, sem nada fazer, esperando chegar a hora da criança chegar da escola, já alimentada. O valor da Bolsa – Família dá para comprar o arroz e feijão e a pinga em alguns casos. Esses homens e mulheres, embora aleguem procurar trabalho, não fazem o mínimo esforço para conseguir. Qualquer mínimo obstáculo (distância, chuva etc.) é motivo forte para não trabalhar. A ajuda governamental supre o básico, então por que esforçar-se? Parece que o povo já se acostumou a viver com baixa renda.

Não era o que acontecia no passado, quando nossos pais precisavam trabalhar para sobreviver, e não havia tanta assistência governamental. Havia mais emprego e menos assistencialismo.

Passando constantemente pelo local, eu me faço sempre a pergunta: será que é isto que pretendemos para o nosso país e para o nosso povo do campo?
No campo estamos criando um povo sem estímulo e sem esperança, pelo excesso de assistencialismo que não incentiva o homem a ir atrás da sobrevivência ou em busca do progresso.Há muitos anos vejo essa cena.
A assistência dos governos aumentou para suprir a falta de emprego. Está havendo uma substituição da auto – estima do homem para crescer, pela omissão e pela acomodação. Para que trabalhar se o governo me dá o básico para sobreviver rudimentarmente: casa, alimentação e escola? O povo está errado? Não. O que está errado e está destruindo o seu brio é o excesso de assistencialismo.
O foco é que está errado e precisando ser mudado para que tenhamos um povo altivo, com auto – estima e que consiga se impor perante o mundo e não fi car eternamente adormecido em berço esplêndido.

 

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